segunda-feira, 25 de julho de 2011

PEIXE-SAPO


                           
Não são poucos os pescadores noturnos que conhecem ou já empregaram o artifício de usar algum tipo de luz para atrair peixes. Mas isso também não é novidade para determinadas espécies de animais marinhos, especialmente o peixe-sapo, também conhecido como peixe-pescador, ou peixe-diabo, encontrado no oceano Atlântico e mar Mediterrâneo. Trata-se de um animal de conformação extravagante, com o corpo mais ou menos triangular e assemelhado a um sapo, medindo de 1 a 2 metros de comprimento e todo coberto de protuberâncias. Os filamentos que esse estranho habitante das águas possui na pele são muito parecidos com alguns tipos de algas marinhas, o que lhe proporciona uma camuflagem excelente para a prática de sua atividade preferida: a de predador insaciável.

Há milhões de anos a primeira espinha da nadadeira dorsal desse peixe separou-se das outras, moveu-se para frente e estendeu-se sobre suas mandíbulas assim como se fosse uma vara de pescar comprida e fina, terminada em forma de bandeira com tiras coloridas, que serve de isca luminosa para atrair outros peixes curiosos. Enterrado na areia o peixe-sapo deixa de fora apenas esse apêndice estranho, que a força de contrações musculares faz com que fique balançando de um lado para outro, até chamar a atenção de alguma vítima descuidada. E quando a infeliz se aproxima para verificar se a coisa estranha que está se mexendo à sua frente é algo que ela possa comer, o caçador recolhe a isca para bem perto de si, escancara a mandíbula inferior e deixa à mostra uma goela enorme por onde presas de tamanho quase igual ao seu podem desaparecer com a maior facilidade. Aí, a presa desprevenida é sugada para dentro de sua boca, onde os dentes curvos que lá existem terminam o serviço empurrando a refeição diretamente para o estômago expansível que o caçador possui.

O macho da espécie encontrada em alto-mar, cujo peso é muito menor que o da fêmea, agarra-se a ela com uma mordida dada em sua barriga, nas costas ou mesmo em qualquer um dos lados, permanecendo assim para obter sem esforço a comida e o oxigênio de que necessita. Em virtude da escuridão nas profundezas oceânicas dificultar o encontro de macho e fêmea da espécie, ela supera esse problema soltando nas águas um aroma que atrai vários parceiros ao mesmo tempo, todos eles se agarrando a ela e tornando-se, daí em diante, parte de seu sistema de vida. O peixe-sapo é uma espécie muito voraz e por isso, nas ocasiões em que sua fome aperta, ele abandona o esconderijo no fundo do mar e chega a atacar aves marinhas que estejam nadando na superfície. Sua carne é desprezada no Brasil como alimento, mas bastante apreciada pelos que moram na costa mediterrânea da França.

Sobre essa espécie marítima a revista Pesca e Companhia publicou matéria assinada por Gustavo Simon, em 28/03/2006, informando que um grupo de pesquisadores da Universidade Santa Cecília e do Laboratório de Pesquisas Biológicas descobrira no estuário de Santos (SP) uma nova espécie de peixe. Embora conhecido entre pescadores e moradores da região pelo nome de mamangaba, ele não estava relacionado em catálogos científicos, e por isso os cientistas preferiram chamá-lo de peixe-sapo, dada sua aparência peculiar. A reportagem também diz que a descoberta, segundo Matheus Rotundo, curador do Acervo Zoológico da universidade, resultou de um projeto de coleta de animais marinhos que seriam incorporados àquela instituição. Segundo seu relato, a partir de 2004 o trabalho dedicou mais atenção ao estuário da Baixada Santista, por ser ela "uma região pouco estudada, cientificamente". Verificou-se, então, que nas coletas feitas o peixe-sapo começou a aparecer com freqüência em determinados pontos, e por isso vários exemplares foram encaminhados ao laboratório, para pesquisas. Segundo Rotundo, “ao procurarmos em catálogos de peixes vimos que ele era diferenciado, que não se enquadrava. Conseguimos encontrar o gênero dele, o opsanus, mas nenhuma espécie semelhante foi encontrada". A matéria também informa que a maioria dos peixes deste gênero está localizada na América Central, e por isso mesmo, o nome científico atribuído ao peixe-sapo descoberto na baía de Santos foi Opsanus brasiliensis, em alusão ao país.

De acordo com a revista, “a principal hipótese levantada pela pesquisa é a de que alguns peixes vieram, em águas de lastro de navios, da América Central para águas brasileiras e acabaram se adaptando. A anatomia da parte óssea, o número de vértebras e a coloração seriam as principais adaptações feitas pelo peixe-sapo. A descoberta foi muito comemorada e publicada em uma revista especializada, em julho de 2005. Mais tarde, após a manifestação da comunidade científica, ela foi amplamente divulgada pela universidade” .

Em 1970, decreto baixado pelo presidente Médici estendeu o limite territorial de 12 para 200 milhas. Mas, 23 anos depois, lei sancionada pelo presidente ltamar Franco fez o limite retomar às 12 milhas iniciais. Com base em acordos internacionais, as 188 milhas restantes foram transformadas em Zona Econômica Exclusiva (ZEE), região sobre a qual os estados costeiros terão "direitos de soberania" para a exploração e a gestão dos recursos naturais. A frota nacional de pesca é formada por cerca de 70 mil embarcações de pequeno porte (em torno de 12 metros de comprimento) e idade média de 20 anos, que operam muitas vezes em pontos distantes, onde a profundidade supera 200 metros, valendo-se de modalidades entre as quais está a de arrasto, onde se usa uma rede cônica - que pode ser simples (utilização de uma rede) ou dupla (com duas redes), puxada por uma embarcação - na captura de corvina, pescada, linguado e mais recentemente o peixe-sapo.

A Fundacentro, de Santa Catarina (Projeto Acqua Fórum) publica em seu site que “com os dados recolhidos nos últimos anos, os pesquisadores estão estabelecendo como deve ser feita a captura dessas espécies descobertas em águas brasileiras para que a pesca excessiva não provoque um colapso dos valiosos cardumes”. Segundo a instituição “as orientações limitam o desembarque de peixe-sapo em 2.500 toneladas e permitem a pesca somente dos indivíduos com mais de 50 centímetros”. Isso para “evitar o que ocorreu com o peixe-sapo na Europa ou com o camarão-carabineiro na África do Sul”. Finalizando, diz o texto que “No Hemisfério Norte, entre a América e a Europa, os vastos cardumes de bacalhau, atum e haddock estão cada vez menores. Agora, só falta o governo brasileiro seguir as recomendações dos cientistas para que o mesmo não aconteça no litoral do país”. 

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